Texto do prof. Wilson Correia, publicado no site Recanto das letras
Vale a pena conferir!
Qual é mesmo a abreviatura de “Mestre”?
Wilson Correia**
Quem faz mestrado
no Brasil é mestre ou mestra, certo? Mestre ou mestra em alguma área do
conhecimento humano. No meu caso, meu título é o de “Mestre em Educação”
-o que está grafado no meu certificado. Isso todo mundo entende, e bem.
O
problema começa quando vão abreviar o termo “Mestre”. Deparo todos os
dias com “Ms.”, a abreviatura para “manuscriptos” (manuscrito), como
sugere a Academia Brasileira de Letras (ABL*).
A par desse “Ms” aí,
tenho visto “Msc.”, abreviatura do inglês “Master of Science” (Mestre em
Ciências), para designar a abreviatura da titulação de pessoas que
nunca estiveram estudando nos Estados Unidos da América do Norte -o que
insistem em grafar para designar o meu título que, como foi dito acima, é
o de Mestre em Educação, ainda que uma dissertação de Mestrado seja um
produto científico (o meu eu o obtive na Unifersidade Federal de
Uberlândia).
Entretanto, meu título não se refere a “Manuscrito”, nem
é de “Mestre em Ciências”. No entanto, há quem insista em usar essas
formas, erradas, ao largo de “Me.”, a abreviatura em Língua Portuguesa
para Mestre. Mestra recebe a abreviatura “Ma.”, fórmulas mais próximas
daquilo que sugere a ABL, que aqui neste texto surge não como um
"magister dixit" medieval, mas como uma referência, exatamente por estar
diretamente ligada à Língua Portuguesa.
Outra confusão que fazem é
com “PhD”, que, latina, mas consagrada em inglês, é a abreviatura para
“Doctor of Philosophy” (Doutor em Filosofia). Mas a forma “PhD” tem sido
usada em lugar de “Dr.”, abreviatura para “Doutor”, em Língua
Portuguesa. “Dra.” é a forma abreviada de “Doutora”. Mas não são essas
formas que prevalecem. Pergunto: por quê?
Depois de uma série de
conversas com colegas e de algumas pesquisas, cheguei à conclusão de que
devo valorizar a língua materna. Em função disso, adotei, desde que a
tenho, a fórmula “Me.”, quando a indicação da minha titulação se faz
necessária nos meandros da burocracia acadêmica brasileira.
Embora
tenha tomado essa providência, minhas dúvidas persistem: por que será
que as pessoas continuam ignorando a maneira correta de empregar esses
elementos de nossa língua? Será desconhecimento? Ignorância? É a tão
manjada submissão ideológica aos norte-americanos dos Estados Unidos a
causa dessas impropriedades? É muito difícil diferenciar quem obtém
titulação no Brasil (o meu caso) de quem a alcança nos Estados Unidos?
Dizem
que um povo que ignora os próprios valores termina por não ter
história. De minha parte, penso que o povo que não sabe defender a
língua-pátria também não saberá o que é soberania, amor-próprio,
auto-estima e, principalmente, a importância dos valores em meio aos
quais vive.
É por essas razões e por querer defender a cultura
brasileira, defender os nossos valores e as nossas especificidades
diante de outras nações, que paro e escrevo esse tipo de texto. Sei,
entretanto, que isso é questiúncula diante das aberrações políticas,
educacionais e de outras naturezas que campeiam meu país. São tristezas
que não invalidam esta discussão sobre a valorização da língua materna.
Como educadores, ela diz respeito a todos nós.
* Para Mestre, a
ABL sugere M.e.; para Mestra, a mesma ABL propõe M.ª, fórmulas que
muitos julgam confusas e esteticamente intragáveis -opiniões com as
quais concordo. Em todo caso, vale consultar: PUCRS Abreviaturas:
<http://www.pucrs.br/manualred/abreviaturas.php>.
** Wilson Correia é Doutor em Educação pela UNICAMP e Adjunto em Filosofia da Educação na UFRB.
http://www.recantodasletras.com.br/artigos
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