Una viaje de tren a Tigre
1. PRÓLOGO
1. PRÓLOGO
Quando foi dada a tarefa de escrever uma monografia
sobre uma experiência vivida em Buenos Aires, pelo Prof. Luiz Etcheverry da
disciplina Epistemologia, iniciei a pensar qual o significado dessa tarefa.
Algumas questões me ocorreram, a primeira
delas foi: o que é experiência? A segunda, o que é intencionalidade? Como irei
escrever essa experiência?
Responder essas questões através da
experiência vivida será o desafio dessa monografia.
Durante a aula, nos foi dada uma lista
com trinta e seis palavras, onde deveríamos fazer uma experiência de
conhecimento em relação às palavras apresentadas, esse trabalho foi realizado
grupalmente e apresentado em sala de aula.
Como tarefa para a aprovação da
disciplina foi proposto um trabalho individual a partir das teorias vistas nas
aulas.
Elegi como experiência: Estação
Retiro. Viajar de trem a Tigre.
A motivação para escrever sobre esse
tema foi a de conhecer um local que já havia ouvido falar, sobre a sua beleza e
a partir daí criar os meus próprios conceitos acerca dessa cidade.
Em um texto de Deleuze y Guattari
apresentado por Etchevery, trás que de acordo com o veredito nietzschiano, não
se pode conhecer nada mediante a conceitos, a menos que se haja sido criado
anteriormente. Conceitos são pontes
móveis, então eles são mutáveis o conceito que temos hoje sobre algo, pode
não ser o mesmo amanhã.
Elegi essa ideia força por acreditar
que poderia ser uma experiência carregada de significado, pois iria agora ter
as minhas próprias impressões sobre essa viagem.
Para
escrever essa monografia, utilisei o método qualitativo de abordagem
descritiva, pois possibilita contemplar com mais propriedade o conjunto de
elementos que envolvem a monografia. Metodologia essa, definida por Minayo (2007),
como aquela capaz de incorporar a questão do significado e da intencionalidade
como os atos, as relações e as estruturas sociais. Tendo a potencialidade de
aprender e analisar os acontecimentos, as relações, os momentos e o processo
como parte de um todo.
A
abordagem qualitativa realiza uma aproximação fundamental e de intimidade entre
sujeito e objeto, uma vez que ambos são da mesma natureza: ela se envolve com
empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores a partir dos quais
as ações, as estruturas e as relações se tornam significativas. (Minayo, 2007)
.2. DESARROLLO
Em um domingo frio e nublado do mês de
julho, saímos em direção à estação Retiro que ficava a poucas quadras do hotel.
Durante a caminhada pude perceber a diferença da paisagem que conheci em
Janeiro, o céu cinzento, as arvores secas poucas pessoas nas ruas.
Chegando a estação compramos o bilhete
e enquanto esperávamos fiquei a observar as pessoas. Eram pessoas muitos
diferentes, turistas, pessoas que estavam ali a passeio, vendedores, outras que
retornavam à suas casas.
Finalmente o trem chegou, entrei,
escolhi um lugar ao lado de uma janela.
Começou a minha aventura rumo a Tigre.
Assim que o trem partiu me veio à mente
a pergunta apresentada no seminário: Que significa fazer uma experiência? De
acordo com o texto apresentado por Etcheverry, Heidegger nos diz que fazer uma
experiência significa algo, que nos passa, que nos ocorre, algo que nos
alcança, nos possui e nos transforma.
Ainda no texto encontramos que se
deixamos de lado o voluntarismo e nos disponhamos de modo receptivo-passivo a
que esse algo aconteça, a obra será fruto de um dialogo vinculante com o mundo.
Percebi que fazer uma experiência é andar
e desandar porcaminhos desconhecidos e retornar e retornar ao lugar onde já nos
encontrávamos.
Quando
comecei a escrever essa monografia busquei o significado de experiência. Em
Japiassu 2001, encontrei que em seu sentido geral, a experiência é um conhecimento
espontâneo ou vivido, adquirido pelo indivíduo ao longo de sua vida. Em seu
sentido técnico, experiência é a ação de observar ou de experimentar com a
finalidade de formar ou de controlar uma hipótese.
Lembrei também que no texto de
Heidderger, Etcheverry, cita Hugo Mojica onde o autor fala que viajar é
expandir a mente, sobretudo, é saber que o absoluto aqui é relativo em outro
lugar. Entendi com essa citação que viajar é nos transformar e na volta nada
será igual.
Parafraseando Mario Quintana, viajar é
trocar a roupa da alma.
A viagem começa passando por lugares
já conhecidos, av. Del Libertador, Palermo, Hipódromo... Aí veio a mente a
frase de Suzuki, “quando se estuda deve-se fazer uma limpeza da casa”, percebi
então que deveria apagar o que já tinha em mente daqueles lugares e começar por
um vazio. Esse é o principio da vacuidade nos ensinado por Suziki quando o
mesmo nos fala que a verdadeira existência vem da vacuidade e volta novamente a
ela.
Nesse momento comecei a observar tudo àquilo
com um novo olhar. Agora como se fosse tudo aquilo desconhecido, vi favelas, sujeira,
lixo, casas velhas. Percebi as pessoas que viajavam no trem. Casais de
namorados, enamorados, famílias, crianças sorrindo, outras chorando, velhos, havia
muitos velhos viajando naquele trem. Entravam e saiam muitos vendedores, alguns
cantavam e tocavam instrumentos.
Comecei a perceber que havia vida
naquele trem.
Voltei a lembrar do Texto, que
significa fazer uma experiência? E a citação de Heiddeger que nos diz: só
podemos experimentar o que nos espera de uma viagem na própria carne, para isso
é necessário o despojo. Assim me despojei me determinei a dar um significado
aquela viagem.
Buscando
o conceito filosófico de significado, encontrei em Japiassú 2001, que é a
relação entre o signo linguístico e o real, o objeto designado pelo signo. Duas palavras sinônimas podem ter a mesma referencia,
mas terem sentidos totalmente distintos. Outro aspecto da compreensão do
significado diz respeito aos tipos de uso que uma expressão pode ter em
contextos diferentes e para objetivos diferentes, o que determina uma diferença
de significado.
Dai
comecei a entender o que o professor pretendia quando falou sobre a realização
dessa monografia, sem, entretanto dar-nos nenhuma orientação de como deveríamos
fazê-la. Ele pretendia que essa monografia não fosse baseada em explicação, mas
sim na emancipação que pode se tornar efetiva pela vontade e desejo de
aprender.
No
prologo do seu livro O Mestre Ignorante, na edição em português, Ranciere
(2002) nos ensina que não há ignorante que não saiba uma infinidade de coisas,
e é sobre esse saber que todo ensino
deve-se basear.
Passamos
por muitas estações e cruzamos províncias. Rivadavia, Vicente Lopez, Martinez,
Acassuso, San Isidro, Beccar. Vi também a beleza de Olivos, com suas belas
casas. Vi estações abandonadas e com muita pobreza.
Cerca
de cinquenta minutos chegamos a Tigre. Descemos em uma bela estação que foi
inaugurada em 8 de maio de 1893 e reformada em abril de 1966. Lá sentamos um
pouco para decidir o que fazer. Resolvemos caminhar pela margem esquerda do
rio, pois na direita, havia muitas pessoas, principalmente turistas.
No inicio
da caminhada, vi um rio negro, com aguas sujas e fétidas. Ali era a saída dos
catamaranes para o passeio pelo Delta, mas logo adiante vi muitas aves que se
alimentavam do produto daquela poluição. Fomos na direção do circuito
turístico.
Na
margem esquerda encontrei um parque infantil com muitas crianças brincando,
muitos jovens sentados na grama namorando, famílias passeando. Vi também muitas
pessoas andando de bicicleta. No rio pessoas remando e passeando em pequenas e
grandes embarcações.
Percebi
que naquela margem podia vê um típico domingo dos moradores daquela cidade,
tranquilo sem agitação.
Olhando
para a margem direita via clubes náuticos, a estação fluvial, o Capitan Paraná
um grande parque infantil.
Continuando
andando pela margem esquerda encontramos o Museo Del Mate. O local estava
fechado, mas fomos informados que ali conta toda a historia do mate, desde a
descoberta da erva até os tempos atuais, que esse é um grande costume entre os
argentinos. Conta com cerca de duas mil peças entre cuias, livros sobre o
costume de “matear”.
Vimos
o Clube Suisso, o Clube de Regatas America, a Prefeitura Naval Argentina e mais
adiante o Monumento al Remero que homenageiam aqueles que deram gloria a
Argentina nesse esporte. O monumento está localizado no encontro do Rio Tigre e
o Rio Luján.
Adiante
vimos o Clube de Regatas da Marinha. Vimos também muitas placas de “proibido
pescar e nadar”. Conversei com um guarda que não quis se identificar, ele é nascido na cidade de Corrientes, mas mora em
Tigre. Ele nos disse que naquela região era proibido nadar e pescar por causa
da poluição, mas nas ilhas do Delta tinham muitos lugares para pesca e banho.
Já
passava das duas horas da tarde quando paramos para almoçar. Fomos ao restaurante
El Tio, lá conhecemos Marina, uma simpática garçonete que nos falou que era
nascida em Santiago Del Esteio, mas que
morou muitos no Brasil. Falava fluente o português e nos comunicamos bem. Sugeriu-nos
para comermos um bife de chorizo a la pizza. Um saboroso e farto prato que
saciou a nossa fome.
Descansamos
um pouco e retomamos a caminhada. Voltamos e fomos em direção à margem direita
do rio. Essa margem era totalmente diferente da outra, cruzamos com muitas
pessoas, famílias, jovens, muitos turistas.
Fomos
ao Parque da Costa, Estação Delta e ao Cassino Trilenio, passamos rapidamente
por cada um desses locais.
A estação
Delta é um lugar bucólico, de onde parte o Trem da Costa até a estação Maipu.
Esse trem viaja quase todo o trecho passando pelo Rio La Plata e pelas suas
matas.
Depois
fomos ao Cassino Trilenio, um lugar muito luxuoso com muitas maquinas e mesas
de jogo. Chamou a minha atenção a quantidade de pessoas idosas jogando, percebi
que muitas delas estavam ali sozinhas sem acompanhantes. Os idosos na Argentina
possuem muito mais autonomia que no Brasil.
Já
passavam das 16h e resolvemos retornar a CABA. O passeio pelo Delta teria que
ficar para outra ocasião, outra experiência.
No
retorno o trem estava muito cheio, havia muitas pessoas. Elas estavam alegres e
conversavam e riam alto.
A certa
altura entrou um senhor bem idoso, que tocava um bandoneon, um instrumento de
origem alemã, mas muito comum naquela
região. Tocou uma bela musica. Perguntei a um jovem que estava na minha frente se
ele conhecia aquela musica, ele me respondeu que era El Mundo de Piazzola, que
é um compositor argentino que inovou o tango e criou um gênero que ficou
conhecido como nuevotango, com muitas influencias do jazz norte americano.
Como
estava uma tarde ensolarada e quente vi
muitas pessoas jogando tênis, futebol, rugby. O hipódromo de Palermo
estava cheio.
Quando
chegamos de volta a Estação Retiro já era mais de 17 horas.
Retornamos
a pé para o hotel, estava muito cansada, mas feliz com a experiência vivida.
4.CONCLUSION
A
viagem de volta pareceu ser mais rápida. Durante todo o trajeto vim pensando na
experiência que vivi naquele domingo, lembrei-me do texto de Etcheverry, quando
o mesmo cita “ a atenção é algo
diferente da concentração”. Neste texto Krishnamurti ensina que quando
nos concentramos nada vemos, mas quando prestamos atenção vemos muito. Percebi
quanta verdade havia nessas palavras, quando prestei atenção, vi coisas que
passaram despercebidas em uma ocasião anterior que fiz essa mesma viagem.
Realizei
a viagem carregada de intencionalidade, que segundo Japiassu
(
2001) é a característica definidora da consciência, na medida em que está
necessariamente voltada para um objeto: "Toda cons-ciência é consciência
de algo". Esse autor também ensina que a consciência só é consciência a
partir de sua relação com um mundo já constituído, que a precede. Por isso digo
que a viagem tinha intencionalidade, mas ainda ignorava como escrever a experiência.
Encontrei
essa resposta na leitura de o Mestre Ignorante de Ranciere ( 2002).
Ranciere
narra à aventura do mestre Jaques Jacotot, vivida no século XIX, onde o mesmo
versa que o ato de aprender poderia ser efetivado sob diferentes perspectivas:
por um mestre emancipador ou por um mestre embrutecedor, por um mestre sábio ou
por um mestre ignorante, e nos faz refletir que pode - se ensinar o que se
ignora, desde que se emancipe a aluno, mas para isso o próprio mestre deve ser
emancipado.
Essa
forma de aprendizado foi denominada pelo autor de Ensino Universal, que
preconiza uma aprendizagem sem um mestre explicador, cujo principio de baseia
em aprender e saber aplicar esses conhecimentos, estabelecendo relações e
ligações com conhecimentos anteriores.
A
partir dessa leitura comecei a compreender o que o professor queria, e como
poderia escrever essa monografia.
Ranciere
escreve que todos os homens possuem igual inteligência e “que só um homem pode emancipar outro
homem”. Então entendi que todos os meus
colegas ignoravam o que fazer e assim todos estavam em igualdade de
conhecimento e emancipados para buscar esse conhecimento.
Através
de Ranciere, entendi que é
necessário inverter a lógica do sistema explicador, desenvolvendo, assim, um
método de ensino e aprendizagem não mais baseado na explicação, mas sim na
emancipação, que se pode tornar efetiva pela vontade e pelo próprio desejo de
aprender ou, mesmo, pelas contingências da situação.
Portanto
a leitura dessa obra nos faz refletir que se pode ensinar o que se ignora desde
que se emancipe o aluno, instigando-o a usar a sua própria inteligência. Mas,
para isso, é imprescindível que o próprio mestre seja emancipado para que possa
dar início ao círculo da emancipação, assim ambos tornam–se sujeitos do
processo em que crescem juntos.
A
teoria do Ensino Universal de Jacotot, nos colocou naquele momento, em igualdade,
ou seja todos nada sabiam sobre como elaborar essa monografia, e assim cada um
iria buscar de forma emancipada os caminhos para a elaboração.
Concluo
essa dissertação mais uma vez citando Ranciere:
“ A
igualdade é fundamental e ausente, ela é atual e intempestiva,
sempre
dependendo da iniciativa de individuo e grupos que,
contra o
curso natural das coisas, assumem o risco de verifica-la,
de
inventar as formas, individuais e coletivas, de sua verificação.
Essa
lição, ela também é nunca que mais atual.”
Jacques
Rancière
Maio de
2002
BIBLIOGRAFIA
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BARBOSA,
A. M. Ciência e Experiência: Um ensaio sobre fenomenologia do espírito de
Hegel ( recurso eletrônico) Porto Alegre, EDIPUCS, 2010
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ETCHEVERRY,
L.M. ?Qué significa hacer uma experiência?- Julio 2012.
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________________ Epistemologia y Educación – ICC- USAL .
Julio 2012
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________________ Intruducion
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6.
________________Método zen de estúdio a partir de Shunryu
Suzuki. Julio 2012
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________________
Seleccion de Textos de La estructura de
las revoluciones cientificas . De Thomas Kuhn. Julio de 2012.
8. JAPIASSU, H. MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia – 3ª
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MINAYO,
M.C. de S. O desafio do Conhecimento:
pesquisa qualitativa em saúde.-10. ed. São Paulo . Hucite/Abrasco, 2007
10. RANCIERE, J. O mestre ignorante – Cinco lições sobre a emancipação intelectual.
Belo Horizonte, Editora Autentica,2002.
Toda experiência tem que ser vivida, só é possível a descrição de uma experiência com ou sem intencionalidade, se você a vive plenamente e em estado de atenção (noema), para poder descrever em detalhes a representação de forma conceitual a partir da racionalidade (noese) da experimentação de ter vivenciado uma situação ou momento. Husserl elimina a oposição entre consciência e matéria, dizendo: "As ideias só existem, porque são ideias de alguma coisa, toda consciência é consciência de alguma coisa, não podendo ser separadas, elas constituem uma única coisa, "o fenômeno". Falar das coisas em estado puro é para mim uma condição eidética, tais como as vejo, sem serem tocadas, sem serem infeccionadas pela cultura ou pela interpretações dos outros, Sartre em 'A Análise da Imaginação'.
ResponderEliminarMuito bom o seu comentário. Esse é o sentido desse texto.....
EliminarParabéns irmã pela sua dissertação introdutória. Inspiradora. Aquilo de que temos experiência direta, dizia Locke, "são os conteúdos de nossa própria consciência - imagens sensoriais, pensamentos, sentimentos, memórias, etc., em enorme profusão". A estes conteúdos de consciência ele deu o nome de "ideias", a despeito de serem intelectuais, sensoriais, emocionais ou qualquer outra coisa.Ideia é simplesmente qualquer coisa que está imediatamente presente à consciência.
ResponderEliminarEste comentario ha sido eliminado por el autor.
ResponderEliminarPerfeito. Parabéns!
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