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jueves, 8 de marzo de 2012

Este artigo foi escrito por mim em 2006 como Trabalho de Conclusão do Curso Processo de Ativação de Mudança da Formação do Profissional da Saúde.da FIOCRUZ.


INTERDISCIPLINARIDADE: O RESGATE DA DIMENSÃO CUIDADORA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE


RESUMO:
Este trabalho teve por objetivo compreender como o significado de Interdisciplinaridade é percebido pelos sujeitos que compõem a equipe de saúde da APAE de Feira de Santanaalém de estimular a visão crítico-reflexivo e humanista das necessidades individuais e coletivas do conjunto social, através de estudos sobre trabalho interdisciplinar. Para o desenvolvimento do estudo foi realizada uma revisão bibliográfica para maior fundamentação teórica e apropriação do tema, e construído e aplicado um instrumento para obtenção de dados relativos à percepção destes sujeitos sobre interdisciplinaridade, cuidados e políticas públicas. O instrumento tanto reuniu dados pessoais, acadêmicos e profissionais dos entrevistados, como também a sua percepção acerca do tema. A análise dos depoimentos demonstrou que é necessária uma mudança de atitude individual e institucional para o desenvolvimento de práticas interdisciplinares. A perspectiva de interdisciplinaridade, na qual este estudo se insere, contempla o reconhecimento da complexidade crescente e a conseqüente exigência interna de um olhar plural, além de a possibilidade de trabalho conjunto, que respeite as bases disciplinares específicas, mas busque soluções compartilhadas para os problemas das pessoas e das instituições.




INTERDISCIPLINARIDADE: O RESGATE DA DIMENSÃO CUIDADORA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE

Mary Diva Portugal Makhoul[1]
RESUMO:
Este trabalho teve por objetivo compreender como o significado de Interdisciplinaridade é percebido pelos sujeitos que compõem a equipe de saúde da APAE de Feira de Santana, além de estimular a visão crítico-reflexivo e humanista das necessidades individuais e coletivas do conjunto social, através de estudos sobre trabalho interdisciplinar. Para o desenvolvimento do estudo foi realizada uma revisão bibliográfica para maior fundamentação teórica e apropriação do tema, e construído e aplicado um instrumento para obtenção de dados relativos à percepção destes sujeitos sobre interdisciplinaridade, cuidados e políticas públicas. O instrumento tanto reuniu dados pessoais, acadêmicos e profissionais dos entrevistados, como também a sua percepção acerca do tema. A análise dos depoimentos demonstrou que é necessária uma mudança de atitude individual e institucional para o desenvolvimento de práticas interdisciplinares. A perspectiva de interdisciplinaridade, na qual este estudo se insere, contempla o reconhecimento da complexidade crescente e a conseqüente exigência interna de um olhar plural, além de a possibilidade de trabalho conjunto, que respeite as bases disciplinares específicas, mas busque soluções compartilhadas para os problemas das pessoas e das instituições.

DESCRITORES: Interdisciplinaridade, complexidade, integralidade.

ABSTRACT
The objective of this study was to understand as the meaning of Interdisciplinarity is perceived by the citizens that compose the team of health of the APAE of Feira de Santana, also to stimulate the vision criticizes, reflexist and humanist, with understanding of the individual and collective necessities of the social set, through studies on work to interdisciplinarity.  For the development of the study it was carried through a bibliographical revision for bigger theoretical recital and appropriation of the subject, and constructed and applied a relative instrument for attainment of data the perception of these citizens on interdisciplinarity, care and public politics. The instrument congregated personal data, academic and professional of the interviewed ones, as also its perception concerning the subject. It analyzes it of the depositions, it demonstrated that a change of individual attitude is necessary and institucional for the development of you practise interdisciplinares. In the perspective in which this study if it inserts, the interdisciplinaridad contemplates: the recognition of the increasing complexity, and the consequent internal requirement of one to look at plural; the possibility of joint work, that respects the bases to discipline specific, but searchs solutions shared for the problems of the people and the institutions.
DESCRIPTORS: Interdisciplinarity complexity, completeness.

INTRODUÇÃO
Há dez anos coordeno uma equipe multiprofissional na APAE, uma entidade filantrópica de atenção à saúde e à educação de pessoas com deficiência mental e autismo do município de Feira de Santana. A equipe, com cerca de 90 profissionais, é composta de médicos, neurologista e psiquiatra, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, pedagogos, assistentes sociais, fonoaudiólogo, odontólogo, professores de educação física, professores especializados e auxiliares, que utilizam métodos e técnicas terapêuticas específicas, através de um conjunto de atividades individuais de estimulação sensorial e psicomotora, visando à reeducação das funções cognitivas e sensoriais da clientela atendida. A entidade é também campo de estágio da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Faculdade Nobre (FAN) e do Instituto Adventista do Nordeste (IANE) nas áreas acima citadas. Os profissionais que nela atuam em sua maioria são cedidos pelo estado e município. Atende diariamente  cerca de 600 usuários, provenientes do SUS, sendo que 400 destes permanecem na escola. A entidade é uma referência de atendimento na região.
O interesse por esta temática decorre das reflexões da minha trajetória profissional, onde percebo que a interdisciplinaridade é um dos requisitos mais freqüentemente citados no tocante à abordagem dos problemas da saúde.  Ao resgatar as origens da palavra saúde como inteiro, intacto, íntegro, Nunes (1995) afirma que essa não permite a fragmentação em saúde física, mental ou social.
Minha atuação junto a esse grupo possuía um enfoque interdisciplinar a partir de ações entre diferentes áreas profissionais e não somente justaposições de saberes. Entretanto, percebia que nem todo o grupo poderia ser visto como articulado e conectado em um projeto comum, apesar de esse existir.
A metodologia selecionada refere-se a estudo analítico e descritivo de abordagem qualitativa. Segundo Minayo (1999), na pesquisa qualitativa, o que o investigador procura compreender e explicar são as dinâmicas das relações sociais. Trabalha com vivências, com a experiência, com a cotidianicidade e também com a compreensão de estruturas e instituições resultantes da ação humana.
A pesquisa qualitativa responde a questões particulares. Ela se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado e trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações e valores e atitudes.
Na fase inicial do estudo, buscou-se compreender, através de discussões com o próprio grupo de trabalho, os entraves para o desenvolvimento das atividades e as dificuldades das relações interpessoais. Posteriormente, foi realizado um estudo bibliográfico para maior fundamentação teórica e apropriação do tema.
Para conduzir a coleta e análise dos dados, foi construído e aplicado um instrumento onde se buscou conhecer a percepção dos sujeitos do estudo sobre o conceito de interdisciplinaridade, suas vivências, suas relações e impressões dos demais atores do processo (colegas e usuários). Buscou-se também conhecer o que os profissionais sabiam sobre políticas públicas.
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1. O CONCEITO DE INTERDISCIPLINARIDADE: ASPECTOS SÓCIO-HISTÓRICOS

O conceito de interdisciplinaridade surgiu no século XX e, só a partir da década de 60, começou a ser enfatizado como necessidade de transcender e atravessar o conhecimento fragmentado, embora sempre tenha existido, em maior ou menor medida, uma determinada aspiração à unidade do saber. (ALMEIDA FILHO, 1997).
Para melhor compreender a disciplinaridade e a interdisciplinaridade, é preciso vê-las a partir de seus condicionantes sócio-históricos.
O advento da Modernidade, por volta do século XVII, provocou um processo de desintegração crescente da unidade do saber. A era moderna foi um período marcado por grande efervescência cultural, quando se destacou Descartes, entre outros. (ALMEIDA FILHO, 1997).
Inaugurando definitivamente o pensamento moderno, ao propor o uso disciplinado da razão como caminho para o conhecimento verdadeiro e definitivo da realidade, Descartes formulou os princípios dessa nova forma de produção de saberes, caracterizado por uma série de operações de decomposição da coisa a conhecer e pela redução às suas partes mais simples. (VILELA E MENDES, 2003).
Esse modelo é conhecido como modelo cartesiano e tornou-se um paradigma. O paradigma cartesiano mostrou-se bastante adequado para construir e tratar objetos simples e proporcionou uma simbiose entre ciência e técnica, atendendo às necessidades da industrialização. Dessa maneira, abriu-se o caminho para a fragmentação do conhecimento, uma vez que as indústrias necessitavam urgentemente de especialistas para enfrentar os problemas e objetivos específicos de seus processos de produção e comercialização. (ALMEIDA FILHO, 1997).
Dessa maneira, o século XIX marca a consolidação das especializações. Assim, a ciência ocidental se desenvolveu com base na noção de especialização, a qual foi valorizando-se cada vez mais e, no campo das práticas sociais, novas profissões foram criadas e um novo sistema de ensino e formação foi estruturando-se, com base na estratégia da disciplinaridade, caracterizada pela fragmentação do objeto e pela crescente especialização do sujeito científico. (ALMEIDA FILHO, 1997).
Em Nunes (1995), encontramos que a formação de profissionais de saúde, desde o início do século XX, tem sido orientada pelo modelo fragmentador e biologicista, guardando relação com o modelo de atenção à saúde vigente, o qual pretende oferecer à população o maior número de serviços de saúde presos à consulta médica, que deve estar voltada a tratar as enfermidades por meio da clínica e com a intermediação crescente de tecnologias.
Este modelo é fundamentado no paradigma flexneriano, baseado no Relatório Flexner, publicado em 1910, pela Fundação CARNEGIE, cujo conteúdo principal tratou de definições de padrões para a formação básica e a especialização medica e controle do exercício profissional. A prática das diretrizes desse Relatório deu-se graças à aplicação financeira de fundações privadas americanas interessadas. (MENDES, 1996)
Em Vilela (2003), apreendemos que para a superação desse modelo que está na raiz da crise da saúde, propõe-se a transição do paradigma flexneriano para outro, denominado de paradigma da produção social da saúde, o qual tem seus fundamentos calcados na teoria da produção social. Tal teoria permite romper com a setorialização da realidade e, dessa forma, a produção social da saúde, além de responder por um estado de saúde em permanente transformação, rompe também com a idéia de um setor saúde, erigindo-a com o produto social resultante de fatos econômicos, políticos, ideológicos e cognitivos. “O que significa, necessariamente, inscrevê-la, como campo do conhecimento, na ordem da interdisciplinaridade e, como prática social, na ordem da intersetorialidade” (MENDES, 1996)
Como observa Minayo (1994), é praticamente impossível conceituar consensualmente a interdisciplinaridade. Para a autora, haveria duas formas de interdisciplinaridade: uma implícita, interna, própria da racionalidade científica que, pelo avanço de conhecimentos, acaba criando novas disciplinas; e outra constituída externamente por campos operativos que articulam ciência, técnica e política, sobretudo, por meio de intervenções sociais.
2. INTERDISCIPLINARIDADE, COMPLEXIDADE, INTEGRALIDADE.

É pertinente ressaltar a diferenciação proposta por FEUERWERKER e SENA (1998), entre interdisciplinaridade, trabalho multidisciplinar e trabalho de equipe. As autoras deixam claro que estes termos não são sinônimos e que tratam de conceitos relacionados e complementares. Para elas, a interdisciplinaridade implica sempre a construção do conhecimento e a demolição de fronteiras entre as disciplinas, enquanto o trabalho multidisciplinar é o conjunto de conhecimentos, organização de serviços e planejamento de diversas disciplinas na busca de solução de problemas e de maior integração das ações. O trabalho multidisciplinar, bem como o trabalho em equipe, nem sempre colocam em pauta a construção de um novo saber ou prática. Consideram, ainda, que o novo só se faz com a interação democrática da diversidade, seja ela de atores, saberes, necessidades ou práticas.
Assim, a interdisciplinaridade constitui um dos principais temas que necessitam serem desenvolvidos para gerarem contribuição para a atenção integral dos indivíduos. Segundo Ceccin (2005), uma atenção integral não se dará desqualificando a cultura das populações. A mudança deve envolver também domínio técnico, compreensão dos processos de organização da vida e compreensão de que os eventos de adoecimento não são apenas biológicos, são eventos de uma história de vida. A Integralidade, inicialmente, responde a essa necessidade de os profissionais perceberem que estão sempre lidando com histórias familiares, de vida, e não com eventos patológicos.
Os sistemas universitários de formação tendem a produzir especialistas dogmatizados no interior de seus paradigmas e sem flexibilidade intelectual para dialogarem com outros profissionais de fora de sua área específica.
Em MORIN (2002), encontramos que a tradição do pensamento que forma o ideário das escolas elementares ordena que se reduza o complexo ao simples, que se separe o que está ligado, que se unifique o que é múltiplo.
A interdisciplinaridade é uma das chaves para a superação desse desafio. Propõe uma orientação para o estabelecimento da síntese dos conhecimentos, senão chegando a um conhecimento humano em sua integridade, pelo menos levando a uma perspectiva de convergência e interação dialética dos conhecimentos específicos. (FEUERWERKER e SENA, 1999).
A possibilidade de uma compreensão integral do ser humano e do processo saúde-doença, objeto do trabalho em saúde, passa necessariamente por uma abordagem interdisciplinar.
Segundo MORIN (2002), o pensamento que recorta e isola é o mesmo que  permite a especialistas e experts terem grande desempenho, e, assim, cooperar eficazmente nos setores não complexos do conhecimento, especialmente aqueles concernentes ao funcionamento de máquinas artificiais.
Segundo Merhy e al (1997), o trabalho em saúde não pode ser globalmente capturado pela lógica do trabalho expresso nos equipamentos e nos saberes tecnológicos estruturados, pois seu objeto não é plenamente estruturado e suas tecnologias de ação mais estratégicas se configuram em processos de intervenção em ato, operando como tecnologias de relações, de encontro de subjetividades, para além dos saberes tecnológicos estruturados. Ainda, segundo o autor, “o trabalho vivo em saúde se materializa através do processo de produção de relações entre os cuidadores e o usuário final que, com suas necessidades particulares de saúde, dá aos profissionais a oportunidade de tornarem públicas suas distintas intencionalidades no cuidado da saúde, tornando-se responsáveis pelos resultados da ação cuidadora.”
Entendo que o contexto histórico vivido nessa virada de milênio, o qual se caracteriza pela divisão do trabalho intelectual, fragmentação do conhecimento e pela excessiva predominância das especializações, demanda a retomada do antigo conceito de interdisciplinaridade que, no longo dos tempos, foi sufocado pela racionalidade da modernidade.
Japiassú (1976) levantou a possibilidade de esse neologismo tomar sentidos amplos e diversificados, com conseqüentes entendimentos e usos.

A interdisciplinaridade exige estruturas flexíveis; mas também implica novos conteúdos articulados em função dos verdadeiros problemas. Enfim, postula métodos fundados menos sobre a distribuição dos conhecimentos que sobre o treinamento de certas aptidões e sobre o desenvolvimento de faculdades psicológicas distintas da maioria e do simples raciocínio discursivo. (JAPIASSÚ, 1976, p.100).

A interdisciplinaridade objetiva “a realização do homem como pessoa, em todas as suas dimensões; a superação de individualismo, desesperança, desajustamentos, enfim, problemas existenciais, oriundos de uma ótica fragmentadora; a integração política e social do homem no seu meio" (LÜCK, 2002 pág. 55).
Em MORIN (2002), encontramos que o conhecimento especializado é uma forma  particular de abstração. A especialização “abs-trai”, em outras palavras, extrai um objeto do seu contexto e de seu conjunto.
No campo da ciência, a interdisciplinaridade mostra a necessidade de superar a fragmentação da produção de conhecimento. Seu objetivo é superar a visão restrita de mundo e compreender a complexidade da realidade, resgatando a centralidade humana na realidade e na produção do conhecimento como ser determinante e determinado. Representa uma nova consciência da realidade, do pensar, ambicionando a troca, a reciprocidade e a integração entre diferentes áreas, objetivando a resolução de problemas de forma global e abrangente.

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
Neste estudo os dados foram analisados baseados no referencial teórico apresentado sobre a interdisciplinaridade. Os sujeitos pesquisados foram todos os profissionais da área de saúde. Entrevistaram-se: médicos, neurologista e psiquiatra, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos, assistentes sociais, fonoaudiólogo, odontólogo; entre os profissionais da educação: pedagogo, professores de educação física, professores especializados. Foi entrevistado também o pessoal da recepção, da administração: assistente administrativo e economista, e da gestão: diretora administrativa, totalizando 23 profissionais.
Minayo (1999) enfatiza que, na pesquisa qualitativa, o critério numérico não é fator determinante de garantia de representatividade. A amostragem representativa é aquela que abrange a totalidade do problema investigado em suas múltiplas dimensões.
A análise dos dados seguiu o seguinte percurso: inicialmente os depoimentos, sob a forma de comentários, explicações, sugestões, foram transcritos e organizados por categoria profissional; em seguida, foi realizada a leitura das respostas transcritas. Num segundo momento, passou à fase de categorização propriamente dita, assinalando palavras e expressões que poderiam dar significados no desdobramento das competências. O terceiro momento foi caracterizado pela análise inferencial das categorias e dos temas emergentes das falas dos sujeitos participantes, onde foi destacado: O significado da interdisciplinaridade na percepção das diferentes categorias e A vivência e a prática interdisciplinar desses sujeitos.
Dos profissionais entrevistados, 52,17 % possuem nível superior, e todos com pós-graduação, 47,85 % nível médio, 91,30% são do sexo feminino e 8,70 % do sexo masculino, com idades variando entre 22 anos a 54. Quanto ao tempo de trabalho na instituição, varia entre 06 meses e 23 anos com média de 09 anos. 82,61% trabalham em outros locais, somente 17,39% trabalham exclusivamente na APAE. 02 dos entrevistados não residem em Feira de Santana. A maioria é funcionário da instituição, os demais são cedidos pelo Município e pelo Estado.
Em relação ao significado da interdisciplinaridade na percepção dos sujeitos, percebemos que todos possuem algum conhecimento sobre o assunto, entretanto alguns com conceitos equivocados. Entendam-se aqui conceitos como o conhecimento de terminologias marcadas por referencial teórico que ajudam a esclarecer diferenças entre as equipes multidisciplinares, interdisciplinares e multiprofissionais. Apesar de não decisivo, sugere-se que conhecer os equívocos nos conceitos referidos, auxilia numa abordagem reflexiva, em base epistemológica, da auto-imagem da equipe e suas práticas.

“Quando todos os profissionais estão dispostos a discutir os casos, encontrando melhores soluções, interligando conhecimento” (T1).

“Para se chegar a uma saúde global, é necessária a participação de diferentes especialistas” (T5)

“Trabalho que se faz em equipe, através das trocas entre os especialistas e a integração entre as disciplinas (profissões) no mesmo projeto, onde há reciprocidade, respeito e flexibilidade, confiança, paciência etc..................” (T7)

Quanto à vivência e à prática interdisciplinar dos sujeitos da área de saúde, a maioria as avaliou, tanto as próprias como as dos demais atores, como positivas, atribuindo-lhes atitudes de compromisso e responsabilidade, o que está em consonância com a perspectiva deste estudo e com o momento histórico vivido.

“Todos tem o mesmo peso e importância na equipe” (T3)

“Existe um comprometimento de todos os profissionais em prol da entidade que é atender bem e satisfazer o cliente” (T2)

“Às vezes sem uma comunicação eficaz, onde cada um desenvolve as suas ações. Poucas atividades são compartilhadas” (T6).

Apenas 02 não se consideraram partícipes da equipe, desconhecendo os demais profissionais e a atuação dos mesmos na equipe. Ficou implícita a necessidade desses profissionais de conhecer as especificidades de cada um, ou seja, conhecer o outro, por meio de suas competências específicas.
Apenas 01 deles não demonstrou interesse em estudar sobre o tema, alegando falta de tempo para o estudo.


“A minha equipe de trabalho é composta por mim, pela atendente e pelas recepcionistas” (T5)

“_______________________________________” (T8)

Pôde-se perceber que havia dissonância entre a teoria e a prática, com dificuldades para conseguir de fato chegar a abordagens interdisciplinares do processo saúde-doença, articulando os aspectos sociais, psicológicos e biológicos dos vários problemas abordados. Isso porque existe ainda uma tendência recorrente de reproduzir os modelos e lógicas tradicionais, que estão exigindo um processo de revisão crítica permanente destes problemas.

“Deveria haver estudo de situações problemas com base em varias áreas de forma integrada, mas no momento não disponho de tempo” (T8).

 A divisão de trabalho coletivo dá-se apreendendo os papéis a serem desempenhados pelos diferentes atores envolvidos nas zonas de interface. Esta categoria desperta também o reconhecimento de que a base da relação interdisciplinar pressupõe existirem disciplinas com mecanismo interno reguladores e sistemas conceituais particularizados. (SAUPE e al, 2005)

“Considero o trabalho na APAE como um processo de integração recíproca entre varias disciplinas e campos do conhecimento” (P1)

“Vejo o trabalho na APAE como de uma equipe de pessoas trabalhando por um ideal, realizando uma tarefa comum” (P3)

Da área administrativa, todos os sujeitos mostraram pouco conhecimento sobre o tema e também não demonstraram interesse de participar de um estudo acerca do mesmo.

“Considero a interdisciplinaridade como analisar um objeto de estudo de uma disciplina considerando a interação com outras............... No momento não tenho interesse em estudar sobre este tema” (A1)

“É algo comparativamente auto contido e isolado do domínio da experiência humana, o qual possui sua própria comunidade de especialistas com componentes tais como dividir idéias, conceitos, habilidades, fatos e metodologias.......................... Não estou disposta a estudar sobre o tema” (A3)

Nos itens referentes às políticas públicas, foi demonstrado pela maioria pouco conhecimento das mesmas como também dos princípios que norteiam, no caso, a Reforma Sanitária, sobretudo, dentro da perspectiva da Integralidade, eixo da reforma que justifica o trabalho de equipe. Apesar de esta pesquisa não ter foco neste tema, este resultado suscita estudos sobre o mesmo.

“Direito universal a saúde” (T1)

“Universalidade, equidade, controle social” (T6)

“Integralidade, Universalidade, Equidade” (T7)

“Regularização, hierarquização, descentralização, participação dos cidadãos, complementariedade com o setor privado” (T8)

Considero estes resultados muito relevantes, pois sendo a saúde uma área eminentemente interdisciplinar, a década de 80 produziu o reforço do individualismo e certos profissionais aceitam com dificuldade os caminhos participativos e de progresso social coletivo. Uma mudança nesse aspecto poderá ser facilitada mediante o esforço de melhor compreender que a interlocução de saberes certamente poderá levar à formação de profissionais mais comprometidos com a realidade da saúde e com a sua transformação.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendo estas considerações como reflexivas e não como conclusivas, por acreditar na capacidade de que o homem se transforme.
 A primeira reflexão demonstra que para a concretização do trabalho na modalidade interdisciplinar, é necessário dominar alguns conceitos, ter oportunidade para praticá-los no trabalho em equipe e desenvolver atitudes afirmativas de acolhimento do outro e dos outros.
Todos os profissionais de saúde de alguma maneira são cuidadores e desenvolvem a aptidão para construção de vínculos, de oferecer ao usuário em alguma medida os cuidados e a atenção de que ele necessita.
O não comprometimento e a alienação podem ser encarados como conseqüentes da divisão parcelar do trabalho (disciplinarização), como também das dificuldades na execução do trabalho coletivo. A alienação se relaciona ainda com o descompromisso com a realidade social e seus indicadores, o que é incompatível com os princípios da Reforma Sanitária.
Assim, é necessária uma mudança de atitude individual e institucional para o desenvolvimento de práticas interdisciplinares. Para Feuerwerker (1998), no campo da saúde, a interdisciplinaridade acena para a possibilidade da compreensão integral do ser humano e do processo saúde-doença. Continua dizendo que a compreensão deste mundo exige uma visão de realidade que transcenda os limites das disciplinas.
Nunes e Silva (1999) ponderam em seus estudos que, quando se formam, os grupos não passam de um agrupamento de pessoas; a sua transformação em grupos visando um trabalho em equipe, implica em mudanças significativas e interpessoais de sentimentos, atitudes, motivação e postura.
Para Tambellini (1994), a prática interdisciplinar, como reconstrução do saber constituído, poderia se desenvolver a partir de duas possibilidades que coexistem: em trajetórias individualizadas por um sujeito de origem disciplinar que vai se apropriando de outros olhares, ampliando seu olhar original; ou por intermédio de um processo coletivo em equipes multiprofissionais, em que vários sujeitos de distintas disciplinas debruçam-se em torno de um problema.
 A construção da interdisciplinaridade ultrapassa a renovação da estratégia educativa, necessitando ser consolidada pela reestruturação acadêmica e institucional via o compromisso com a formação do profissional adequado para prestar, no campo da saúde, atendimento eficaz, humano e baseado nas demandas.
Em Raynout (2002), encontramos os seguintes questionamentos: como fazer com que os profissionais que lidem com pessoas doentes, pretendendo achar soluções para as causas de seu sofrimento físico, compreendam o fato de a essência da pessoa humana ir muito além do seu corpo biológico - sendo ela um ser que pensa, imagina, simboliza, vive tanto de afetos e fantasmas quanto de alimentos materiais? Como fazer com que aqueles especialistas cuja atuação se dirige aos indivíduos seja para curá-los ou para educá-los – admitam o fato de cada pessoa ser inserida em redes, estruturas, formas de pensamento coletivas que até certo ponto marcam e orientam  seu comportamento?
Entendo que é um processo difícil de ser realizado. O trabalho coletivo é muito complexo, pois cada pessoa tem sua singularidade e seu modo peculiar de interagir.
A interdisciplinaridade é um processo de desconstrução e reconstrução de valores e paradigmas.
Raynout também afirma que o desafio fundamental é tentar restituir, ainda que de maneira parcial, o caráter de totalidade do mundo real dentro do qual e sobre o qual todos nós pretendemos atuar.
Totalidade – a palavra surge cada vez que se fala de interdisciplinaridade! Pois o mundo real, na sua essência, é total. Ele é feito de inter-relações, interações entre os muitos elementos que o compõem.
Finalizo transcrevendo Fazenda (2002) que nos ensina dizendo:

Uma atitude interdisciplinar é uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor, atitude de espera entre os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele a troca, que impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafios – desafio perante o novo, desafio de redimensionar o velho – atitude de envolvimento e comprometimento com as pessoas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria de revelação, de encontro, enfim de vida.



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